3.8.12

Erico Verissimo sobre Mario Quintana


Completando a série de poemas e textos em homenagem aos 106 anos de nascimento de Mario Quintana nesta semana, reproduzimos o prefácio do seu livro infantojuvenil “Pé de Pilão”. O prefácio foi escrito por Erico Verissimo e consta na edição do livro publicada pelo Instituto Estadual do Livro (IEL) e editora Garatuja em 1975.


MARIO QUINTANA, “PÉ DE PILÃO”… E EU

Erico Verissimo (1975)

Meus amigos, na minha opinião Mario Quintana é hoje em dia um dos cinco maiores poetas de todo o Brasil. de Pilão é um livro que ele escreveu para crianças de várias idades, mas que também pode – e deve! - ser lido por gente grande. Mas... como é que eu entro nessa história toda? Ora, eu não entro. Fico cá do lado de fora da casa do livro, gritando para todos os ouvidos e todos os ventos que o livro é bonito, divertido, faz a gente rir e querer saber “que é que vem depois...” Os desenhos são muito bons e foram feitos por um famoso artista, Edgar Koetz, gaúcho como o autor da aventura.

Conheço Mario Quintana faz uns bons quarenta anos. É o sujeito mais “diferente” que tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas fazer versos, prosa com rima (carvão-coração... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é saber ver o mundo como veem os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a quem o lê o que ele vê e sente, em resumo, é ter os olhos para revelar a face secreta das pessoas e das coisas. Mario Quintana é um homem que caminha sozinho, como aquele gato do conto inglês. Bom, vou revelar a vocês um segredo. Descobri outro dia que o Quintana na verdade é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora.

(Ah! Como anjo seu nome não é Mario e sim Malaquias).

Quintana é também um mágico, só que suas mágicas são feitas com palavras. Agora, amigos, prestem atenção. de Pilão foi feito todo em versos, isto é, com frases que têm compasso de música, e com rimas. Quem já souber ler, que leia este conto em voz alta e clara. Se não souber, peça a outra pessoa – mãe, pai, irmão ou irmã mais velha, babá, alguma titia... - que se encarregue disso. E se durante a leitura por acaso aparecer na história alguma palavra que vocês nunca tenham visto antes, perguntem a quem sabe, o que ela significa. É assim que a gente aprende sua própria língua... e a dos estrangeiros.

Pois é. Deixo com vocês o caso do de Pilão, que se vai transformando, de verso em verso, no caso de outros personagens, bem como um rio que vai correndo para o mar e encontrando no caminho pessoas, animais e coisas que o leitor não esperava. Leiam esta história – ou escutem sua leitura – mais de uma vez. E se alguém um dia perguntar quem é Mario Quintana, podem responder sem medo de errar que ele é um dos melhores poetas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem gosta dele como de um irmão, um tal de

Erico Verissimo