25.2.11

POEMAS DO ACERVO


APESAR DE TUDO


NEI DUCLÓS

Apesar de tudo
sou teimoso
e vivo
sou teimoso e visto
a pele dos soldados mortos

Neste carrossel de espanto
que carrego dentro dos olhos
toco melodias
que me ressuscitam

Levanto com esforço
as âncoras
e parto nas naus sem volta
do meu canto

E sempre tenho que mudar as velas
arrebentadas de vento
com remendos colhidos
dos violentos panos do tempo

O tempo é novo
e eu tenho a mania insone
de rebentar em pranto

Mas sou teimoso e insisto
sou teimoso e visto
a pele dos soldados mortos


Poema do livro Outubro,
de Nei Duclós
(IEL, 1975, 87p)